segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Origem dos batistas e missões


Antes de concentrar este trabalho na obra específica de missões realizada pelos batistas brasileiros, mister se faz apresentar uma breve palavra sobre este grupo. Desde os primeiros séculos o evangelho foi disseminado com ardor pelos discípulos de Cristo através do mundo. A partir do segundo século, começou o desvirtuamento dos ensinamentos apostólicos, com o surgimento de doutrinas e práticas que deles destoavam. Assim foi se alicerçando uma igreja da maioria, que passou a ter apoio dos poderes constituídos, tanto no Oriente como no Ocidente. Mas a verdadeira Igreja de Jesus Cristo nunca morreu, pois continuou existindo em grupos minoritários, considerados dissidentes, que primavam por manter os ensinos bíblicos, mesmo sendo perseguidos, condenados, mortos e seus escritos queimados. No século XVI, surgiu o movimento chamado Reforma Protestante, quando os princípios evangélicos da justificação pela fé, supremacia das Escrituras Sagradas e sacerdócio de cada crente foram disseminados para contrapor o poderio da Igreja Católica Romana, que havia dominado o mundo ocidental durante toda a Idade Média.

Como um grupo específico, os batistas surgiram na primeira década do século XVII, vindos dos separatistas ingleses, que eram os dissidentes da Igreja Anglicana, a qual mesmo sendo protestante, perseguia os que dela discordavam. Uma congregação, constituída de puritanos que se tornaram separatistas na Inglaterra, fugiu da perseguição religiosa em 1607, para Amsterdã na Holanda, sob a liderança de João Smyth e Tomás Helwys. Em 1609, houve ali a resolução de dissolver a Igreja e começar tudo de novo através do batismo do que crê, rejeitando, portanto, o batismo de crianças inocentes. Essa posição já era adotada por outros grupos considerados radicais desde o século XVI, chamados anabatistas, e continuava na ocasião, inclusive na Holanda, com os menonitas. Mas havia algumas diferenças nas áreas teológica e prática entre o novo grupo e aqueles que preservavam a tradição anabatista, que eram conhecidos como menonitas. As críticas, por não terem se unido aos menonitas, atingiram João Smyth, que diferentemente de Tomás Helwys, pediu filiação àquele grupo, gerando uma séria divergência entre os dois.

Helwys, que se manteve fiel ao posicionamento assumido pela Igreja anteriormente, escreveu vários trabalhos, inclusive uma declaração de fé e um livro intitulado, Breve declaração do mistério da iniqüidade, onde defendeu liberdade religiosa e também se dispôs a retornar com sua pequena igreja à Inglaterra. Assim aconteceu, sendo ele preso em 1612 e morto na prisão em 1616[1]. Mas o grupo prosseguiu e recusou ser chamado de anabatista, que significa o que batiza de novo, afirmando que seus seguidores não administravam um novo batismo, mas o verdadeiro batismo segundo o Novo Testamento. Daí surgiu o nome “batista”, cujo significado é “o que batiza”[2]. Logo outras igrejas apareceram e foram conhecidas como Batistas Gerais, pelo fato de adotarem a teologia arminiana, que defende a expiação universal de Cristo.

Em 1638, sob a liderança de João Spilsbury, outra igreja foi organizada totalmente independente dos Batistas Gerais. O novo grupo foi chamado de Batistas Particulares, por aderir a teologia calvinista, que aceita a expiação de Cristo apenas para os eleitos. Logo os batistas se espalharam por outros países do mundo, principalmente os Estados Unidos da América do Norte[3]. Foi dos Estados Unidos que vieram os primeiros batistas para o Brasil.

Não houve, da parte dos primeiros reformadores, um trabalho missionário como aconteceu com os jesuítas, na chamada Contra-Reforma. O maior interesse em missões entre os protestantes só foi despertado a partir do século XVIII, primeiramente pelos Irmãos Morávios, depois, de forma mais definida e continuada, por batistas ingleses de posição calvinista moderada. Esse grupo iniciou movimento de missões modernas, com a criação da ainda hoje ativa, Sociedade Missionária Batista Britânica, em 02 de outubro de 1792[4]. Esta incentivou os protestantes, principalmente os batistas, tanto da Inglaterra como dos Estados Unidos, a cumprirem a ordem de Cristo, levando o evangelho ao mundo.

Os batistas no Brasil

Com a organização da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, em 1845, missões passou a ser para eles uma tônica. Em 1860, foi enviado Thomas Jefferson Bowen, como o primeiro missionário no Brasil da Junta de Missões Estrangeiras da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos (Junta de Richmond)[5]. Infelizmente esse missionário logo mais retornou à sua pátria, levando a impressão de que o campo neste país não era propício para o trabalho de missões, ao escrever: “É inconveniente fazer qualquer nova tentativa, no momento presente, de manter uma Missão naquele país”[6].

Após a Guerra da Secessão (1861-1865)[7], vários norte-americanos vieram ao Brasil para estabelecer colônias, destacando-se a de Santa Bárbara em São Paulo, onde um grupo de batistas organizou a primeira igreja batista no Brasil, em 10 de setembro de 1871. Ela era composta de americanos que não dominavam a língua portuguesa, mas desde o início apresentou o propósito de servir aos americanos ali estabelecidos e divulgar o evangelho ao povo brasileiro, solicitando desde 1872 que a Junta de Richmond voltasse a mandar missionários para o Brasil[8]. Em 1879, nova igreja foi organizada na mesma cidade, conhecida como Igreja Batista da Estação, que mesmo sendo também composta de americanos, recebeu a 20 de junho de 1880 o primeiro batista brasileiro, o ex-padre que na ocasião estava cooperando com os metodistas, Antonio Teixeira de Albuquerque, que ali foi batizado e recebeu imposição de mãos para o ministério[9].

Aquelas duas primeiras igrejas organizadas no Brasil, além do trabalho do General Alexandre T. Hawthorne, foram os principais elos de ligação com a Junta de Richmond, para um novo despertamento quanto a um trabalho missionário no Brasil[10]. Foi assim que, em 1881, chegou o casal William Buck Bagby e Ana Luther Bagby, e em 1882, Zacarias Clay Taylor e Kate Stevens Taylor, que juntamente com Antonio Teixeira de Albuquerque, organizaram em 15 de outubro de 1882 a Igreja Batista na Bahia, que se tornou a terceira igreja batista no Brasil[11], inclusive recebendo os seus membros fundadores por carta das igrejas de Santa Bárbara e da Estação[12]. Isso representou uma nova diretriz, com resultados extraordinários para a difusão do evangelho no Brasil, que hoje conta com cerca de sete mil igrejas e, incluindo os congregados das várias convenções, mais de dois milhões de batistas.

[1] OLIVERA, Zaqueu Moreira de. Liberdade e exclusivismo: ensaios sobre os batistas ingleses. Rio de Janeiro: Horizonal; Recife: STBNB Edições, 1997, p. 27-68.

[2] Id. O nome batista. O Jornal Batista, Rio de Janeiro, ano 105, n. 20, 15 maio 2005.

[3] Id. Os batistas: versão histórica de sua origem. Reflexão e Fé, Recife: STBNB Edições, ano 4, n. 4, p. 9-17, dez. 2002.

[4] TORBET, Robert G. A history of the Baptists. Valley Forge / Chicago / Los Angeles: The Judson Press, 1963, p. 81.

[5] Junta de Richmond é o nome como no Brasil ainda hoje é conhecida a Junta de Missões Estrangeiras (Foreign Mission Board) da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, que atualmente tem o nome de International Mission Board (IMB). Doravante, ao nos referirmos a esse órgão, usaremos quase sempre o nome “Junta de Richmond”.

[6] BROADUS, J. A. et al. Report on the Mission to Brazil. Proceedings of the Southern Baptist Convention at its eighth biennial session, 1861. Richmond, Virginia: Macfarlane & Ferguson, 1861, p. 61. Deve-se dizer que T. J. Bowen antes foi missionário na África e amava o povo africano, pelo que no Rio de Janeiro se aproximou de escravos, cuja língua original (yorubá) era sua conhecida. Mas isso gerou desconfiança dos grupos dominadores. A sua contribuição, no que se refere ao papel dos batistas no Brasil sobre a escravatura, é importante e deve ser ressaltada.

[7] A Guerra da Secessão foi a guerra civil nos Estados Unidos da América, entre os estados do Norte e os do Sul, com motivos econômicos, estando envolvida principalmente a questão da abolição da escravatura. Foi vencida pelos estados do Norte, causando frustração e desânimo em donos de terra no sul, que dependiam do trabalho escravo. Isso motivou a ida de muitos americanos para outros países, inclusive o Brasil.

[8] CRABTREE, A. R. Historia dos Baptistas do Brasil: até o anno de 1906. V. 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Baptista, 1937, p. 39.

[9] OLIVEIRA, Betty Antunes de. Antonio Teixeira de Albuquerque: o primeiro pastor batista brasileiro – 1880 (uma contribuição para a história dos batistas no Brasil). Rio de Janeiro: Edição da autora, 1882, p. 75.

[10] OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. Batistas no Brasil: marco inicial. O Jornal Batista, Rio de Janeiro, ano 106, n. 13, p. 2, 26 mar. 2006; n. 15, p. 14, 09 abr. 2006.

[11] Esta igreja passou a ser chamada de Primeira Igreja Batista do Brasil.

[12] AMARAL, Othon Ávila; BARBOSA, Celso Aloísio Santos. Livro de ouro da CBB: epopéia de fé, lutas e vitórias. Rio de Janeiro: JUERP, 2007, p. 30.

Escrito pelo Pr. Zaqueu Moreira de Oliveira, Recife-PE. Extraído de: http://informativobatista.zoomblog.com/archivo/2008/10/10/no-prelo-100-anos-da-Jmm-do-Pr-Zaqueu.html

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