
É claro que estes pensamentos me ocorreram e eu não tinha a menor pretensão de sistematizá-los, ou sequer de que fossem coerentes. Simplesmente estava pensando enquanto andava, até que encontrei um pastor que estava à porta do templo esperando outros colegas para uma reunião de oração. Ele me disse que regularmente um grupo pequeno de pastores se reúne ali para orar e pensar no que chamou de “ferramentas adequadas” para a construção dos seus ministérios. Foi neste instante que falou algo que me intrigou: “Nós podemos realizar o ministério com várias ferramentas. Podemos usar um serrote ou podemos usar uma serra elétrica. Onde estamos e o que queremos é que vai determinar o tipo de instrumento que queremos usar.”
Tomei um susto quando ele disse aquilo. Parecia que o diálogo não era com o que eu lhe falava, mas com o que eu pensava. Por uns instantes, fiquei calado, sem saber o que representava aquela coincidência. Os outros pastores chegaram e o diálogo sobre ferramentas ministeriais terminou sem que eu dissesse nada sobre o que vinha pensando acerca de machados e serras elétricas desde que vira aquela árvore tombada na rua.


Devemos promover um ministério marcadamente artesanal, onde cada um ponha a mão na parte que lhe cabe, definida pelo Espírito Santo, para a execução daquilo que Deus define como tarefa nossa neste tempo. Queremos e devemos produzir, construir, edificar, mas sem causar males à natureza do Evangelho e às pessoas. O que há de nos pautar é o caráter de Cristo e não o espírito mercantilista de nosso tempo. É notório que igrejas que caem na tentação de atuar com serra elétrica padecem pelos seus próprios descaminhos: conseguem visibilidade, mas anunciam com seus discursos práticas e alianças que renunciam ao essencial para não perder o emergencial.
Que rumo o Senhor quer que tomemos? As respostas que a igreja de Antioquia encontrou, mencionadas em Atos 13, podem nos ajudar. Ali havia profetas e mestres – e ambos os ministérios esmeram-se por entender e compartilhar a palavra de Deus. Profetas anunciam coisas novas, convidam aos rompimentos, estimulam, inquietam, provocam, confrontam. A voz profética é, sobretudo, uma voz que lembra aos esquecidos o rumo apontado e determinado por Deus. E o Senhor não está retido no passado distante. Deus fala, e fala ao homem de hoje. Quanto aos mestres, esses ensinam apontando para a revelação de Deus e o fazem com a própria vida. O verdadeiro mestre é aquele que experimenta o conteúdo do que ensina.
Que haja entre nós a voz de Deus que anuncia as coisas novas e a voz de Deus que não nos deixa esquecer da sua revelação ao longo da história.
Valdemar Figueredo Filho
Extraído de: http://cristianismohoje.com.br/ch/a-igreja-e-a-serra-eletrica/
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